Enquanto tu dormes, observo o teu rosto e percorro, sem tocá-lo, os finos traços, desenhando no ar as linhas do teu corpo. E penso quão injusta é a minha covardia diurna por sentir as coisas que não falo e dizer tantas coisas que não sinto. Mas aqui, diante do silêncio nocturno, quebro facilmente as minhas regras e sussurro as palavras que às claras não digo. E tu escutas, eu sei pois os teus olhos comovem-se, mesmo cerrados se movem e pode-se perceber nos teus lábios um certo esboço de um sorriso, precedendo a calma de um sono ainda mais profundo.
Enquanto dormes, faço-te promessas. Aceitando ideias e planos teus que embora finja ignorar também são meus. E digo todos os "sim's" que o tempo permite e concordo com tudo que sem motivo declino recordando cada palavra ouvida na minha fria surdez dissimulada.
Enquanto dormes, espero que o dia chegue deixando a essa forma o mesmo sentido. Mas a luz que vem da janela adormece-me e tudo se esvai...E só resta a angústia da dúvida de não saber o que é real, se essa emoção lúcida que me traz a noite ou as coisas que só vejo quando os meus olhos se fecham...
......para ti