A história de cada um de nós está intimamente ligada às experiências que vivemos. Nós somos a nossa memória, as nossas lembranças. Quando ouvimos uma música, ou visitamos um lugar desconhecido as associações com pessoas ou experiências anteriores são inevitáveis. Assim como é inevitável passar impunemente as páginas de um livro bom e não sorrir ao lembrar as imagens que construímos ao lê-lo ou olhar para uma fotografia de um momento feliz e não sentir um arrepio na espinha, um frio na barriga...Nós somos a nossa memória, as nossas lembranças..."o que a memória ama, fica eterno". E eternas serão as lembranças boas que trazemos connosco. Há uma memória colectiva, também chamada memória involuntária, que é a memória que constitui uma sociedade, os pensamentos de um povo, mas nesta memória está intrínseca a memória particular, a individual.
É possível criar esta associação da memória individual com a memória colectiva quando existe uma base comum, um "concordar" ou um sentimento colectivo, como o que existe durante as manifestações desportivas ou o que tentou ser criado durante o 11 de Setembro: uma nacionalidade exagerada que criaria uma identidade nacional comum.
Não sei porque pensei nisto agora. Talvez porque passei parte da minha tarde a estudar a memória e suas teorias para preparar um trabalho ou pela música que ouvi pela milésima vez e a olhar pela janela senti um vento fresco no rosto e criei imagens de um passado-próximo que me fez viajar nas lembranças. Aquele música, ouvida mais uma entre tantas outras vezes, conseguiu despertar, naquele momento específico, lembranças sepultadas e guardadas no íntimo mais secreto das minhas lembranças. Talvez tenha sido este calor, que deixa os dias e noites deliciosamente provocativos. A música em si não diz nada de novo, de especial, porque ela não existia no momento em que a vivi no passado, mas ganhou significado quando a associei ao passado que aquele vento despertou.
E em silêncio aguardo o par para a próxima dança. Exorcizei todos os fantasmas que ainda rondavam os meus dias e agora calmamente aguardo. Calma, feliz e bem resolvida! Já não me falta quase nada, um pouquinho de nada e o paraíso será completo.Nem os tentáculos desta cidade, que irá prender-me por mais tempo aqui, consegue tirar a paz do meu coração.Tudo é paz, tudo é calma, tudo é confiança. E o meu coração, que já conheceu o grito, o sangue, o medo, o frio, agora pacientemente espera...Com tantas tempestades e atropelos e risos e sonhos ele, que ainda não sabe bem o que quer, agora já tem certeza do que não quer.
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