10.9.04

As minhas apostas!

Sempre me esforcei muito: desde pequena, sentia que o mundo esperava de mim uma estrelinha dourada no peito, testando a boa aluna, a criança prodigiosa, o talento natural: um apurado projecto. Afinal fui uma menina dada a riscos, que precisava corresponder às expectativas de sucesso que me assolavam e àquelas outras, ainda mais cruéis, com que eu mesma me fustigava. Queria, sim, ser o exemplo. Cresci com o estigma da eficácia, a sofrer a cada (inevitável) constatação de falhar a que, como qualquer um, também estou sujeita. E que sem cansaço nem piedade me lembra a condição de condenada como todos, equivocada como poucos na ilusão, assim foi, assim é.

Penso muito para entender as opções, as associações ramificam-se sem fim, até esqueço os objectivos no meio de tantas possibilidades. Esforço-me por compreender as escolhas que classifico prematuramente como falhas, por acreditar na rectidão das minhas intenções ou para sustentar causalidades defensáveis, que os erros mesmos só se confirmam com a experiência, qualquer especulação não leva a mais longe que um conjunto de mais e mais questões. Eu projecto-me, enfim, de respostas que não controlo nem posso prever. Sou uma jogadora cautelosa, avalio as alternativas. Por isso não estou preparada para perder as minhas apostas.