20.8.04

Olho em volta..

Olho em volta e calo-me. Cresce em mim uma vontade de sorrir ao ver algumas das minhas palavras-loucuras, elas materializarem-se à minha frente. Nunca foi insanidade, eram tempos desconcertantes. Começo a acreditar nas minhas alucinações, uma faísca de segurança brilha nos meus olhos. Não, eu nunca estive louca. Penso ter encontrado um sinal que pode indicar a estrada que procuro. O som é tão forte que chego a tremer.

Há dias que prefiro ficar em silêncio, e já fui questionada sobre a estranheza do meu olhar. Não é tristeza nem raiva, é algo incompreensível. É como se eu parasse e deixasse o mundo girar, sem a menor preocupação de interagir ou medo de ficar à parte, somente deixar tudo passar.Voltei para mim e sou outra. É tão estranho sentir isso. Mudei de mais, e mudei muito mais onde não mostro. Estou a viver numa felicidade bizarra, os meus olhos despertam frente a contrários da razão da qual sou escrava. Sempre achei que nunca conciliaria obrigações e devaneios, algo mudou e sinto a minha alma crescer.

Só receio tornar-me "Deuses e Monstros", tornar-me fortaleza e destruição. Com as minhas palavras reergo muralhas que um dia o meu sorriso ingénuo derrubou. E o tempo transforma a pele em casca . A alegria vem e vai como as ondas, receio que as minhas areias se tornem pedra no balanço do mar.

Embora me doa a mim dizer, não viverei o suficiente para ver as palavras misturadas entre orgasmos e paixão. Os tempos são outros e os desejos estão fragmentados em multidões especializadas no pouco, num foco e no suficiente. Queremos mais que isso. Ainda acredito em pessoas, até o ponto em que se tornam amantes, depois disso, o jogo é de sobrevivência e a verdade deixa de existir.

Com a correria em que está o meu quotidiano, se eu participasse naquela prova esquisita que os atletas fingem que caminham quando na verdade não estão a correr nem parados no lugar -- sabem qual é? -- a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos já estaria garantida!