16.8.06

Sensações inéditas


Quero ter sensações inéditas até o fim dos meus dias.


Nada é tão comum quanto resumirmos a vida de outra pessoa e achar que ela não pode querer mais.
Sim, quero mais. Quero não ter nenhuma condescendência com o tédio, não ser forçada a aceitá-lo na minha rotina como um inquilino inevitável. A cada manhã, exijo ao menos a expectativa de uma surpresa, quer ela aconteça ou não. Expectativa, por si só, já é um entusiasmo.

Quero que o facto de ter uma vida prática e sensata não me roube o direito ao desatino. Que eu nunca aceite a ideia de que a maturidade exige um certo conformismo. Que eu não tenha medo nem vergonha de ainda desejar.·Quero uma primeira vez outra vez. Dar um primeiro beijo a alguém que ainda não conheço, um passeio por uma nova cidade, fazer algo que nunca fiz, quero ter sensações inéditas até o fim dos meus dias.

Gostaria de me reconciliar com meus defeitos e fraquezas, compor a minha biografia, deixar que vazem algumas ideias minhas que não são comuns.

Queria compreender e aceitar que não tenho controlo nenhum sobre as emoções dos outros, sobre as suas escolhas, sobre as suas falhas e também sobre os seus sucessos.

E na minha insignificância gostaria de deixar de ser tão misteriosa para mim mesma, compreender que tenho outras possibilidades de existir. O que quero mais? Escutar-me e obedecer ao meu lado mais transgressor.

Pois é, ninguém está satisfeito. Ainda bem.