Hoje sentei-me mais perto das pessoas, com vontade de abraçá-las, contive-me um pouco. A minha expressão de dor criava uma barreira fácil, pertinente. Arrastei a cadeira naquele salão onde todos os barulhos eram senão barulhos, arrastei-a deixando algumas marcas no chão. Terapia intensiva, apoio a qualquer dor, dizia-me vem, desabafa comigo, todos os dias, por volta das cinco da tarde, se quiseres eu aguardo, mas vem, a minha intenção é a melhor, eu posso ouvir-te. Foi então que, depois de arrastar lentamente, a cadeira através do salão reverberante e ficar o mais próxima possível dos ouvidos emprestados, ele abriu a boca. Um grito imenso e sem vírgulas:- Mandaram-me tomar conta de ti mas quem é que toma conta de mim?
Bebeu o resto do copo d´água e saiu por todas as portas ao mesmo tempo, deixou em mim uma marca grande e bruta.