9.8.04

Minutos para divagar

Há fases na vida que são como as queimaduras, o choque da pele com o fogo é doloroso, mas temos que correr o mais rápido possível para tratá-lo, quando a primeira dor passa, assim que medicada, ela fica lá, remoendo, a doer, a doer, assim como a dor de dente, que te incomoda, que te lembra sempre que o dente existe . Acho que todas são assim, não são? Qualquer dor é incómoda, ainda mais aquelas que permanecem e são subtis, essas doem mais ainda, porque não te esqueces delas, elas perpetuam as tuas lembranças. Acho que defino assim a fase que passo. Mas foi medicada e a dor melhorará, não para sempre, mas apenas para o primeiro penso ser retirado e ser passada uma nova pomada.
Estou a arrumar as minhas coisas, pelo menos por agora e deparei-me com uma realidade triste: a vida resume-se em caixas fechadas com fitas grossas e amarrotadas. É aí que eu percebo quanto lixo guardamos e levamos connosco, por achar que é tão necessário, quando somos obrigados a limitar espaço, levamos apenas o que realmente importa. Não seria mais fácil a vida ser levada assim? E porque não a levamos? Acho que é porque gostamos de carregar lixos, coisas inúteis, que na verdade não fazem a menor diferença nas nossas vidas.
Dentro dessas caixas constam: filmes em DVD, fotografias em casa de parentes - não foi apenas uma escolha, maços de tabaco vazios, noites mal dormidas, música quase nunca, pensamentos soltos, procura, encontro, risos, lágrimas, conhecimento do outro, conhecimento de mim, alegrias, almoços, amigos, passeios, descansos, casa, decoração, surpresas, desabafos, afagos, sonhos realizados.