Eu acho que as pessoas levantam muitas bandeiras sem fazer uma reflexão consciente ou uma auto-crítica. Seguindo a regra do bonito e do feio, condenam e defendem coisas aliadas a um puritanismo infundado do qual desconhecem as origens, reproduzindo as regras do bastante admirável. Somos falhados, somos parvos, estamos sempre a aprender com os grandes ou pequenos os erros que também são nossos. É claro que devemos saber listar os nossos valores, conhecer a linha condutora das nossas posições, ter princípios que assegurem o nosso bem-estar. Mas, além de reconhecer os nossos gostos, temos de saber os seus motivos: as nossas atitudes devem estar esclarecidas diante de nós , no nosso próprio olhar, ser parte das coisas em que realmente se acredita. Os porquês das nossas escolhas precisam ser claros quando as tomamos. Não falo de uma racionalidade robotizada sempre muito bem explicada das coisas que vivemos, mas da tranquilidade de ser sincero. Podemos inclusive (e é este o caso) colocar umas coisas bem bonitas como objectivos, metas que pretendemos alcançar para a plenitude do que buscamos fazer connosco, as nossas buscas que nos tornam melhores: existem sempre coisas que desejemos ser e limitações a vencer.
O que não admito são os discursos que não se consagram na prática. Falar é fácil, todos sabemos disso. Proferir belas palavras é fácil e esperar aplausos encantados é uma maravilha. Da boca para fora, é muito simples ser um prodígioso. Dos males do mundo, todo nós compartilhamos sair a dizer o contrário, o quanto se é melhor por isto e aquilo, é, muitas vezes, um burro discurso de hipocrisia. Estes desafios são meus também. Não estou imune à prática do só-dizer. Eu tenho muitos pecados e não gosto deles.
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