9.2.11

pseudo lover's scene


Parecem conhecer-se desde há muito, como se acreditassem em vidas passadas, inventaram-se reais ou potenciais, humanos, sensíveis, inteligentes, ou são como gostariam de ser.
Riem, choram, perdem a paciência mas conseguem continuar com bom humor ou muito jogo de cintura. Tornam-se loucos quando há alguém a escutar as suas sensações, os seus sorrisos, os seus sons.
Na realidade, outros corpos roem-se de inveja pois no espaço e tempo, os sentimentos são compartilhados e não são seus, são deles. As emoções são sinceras e mesmo as fingidas acabam por ser verdadeiras.
Entre letras, bilhetes ou presentes imaginários, está contido o eu e o outro, na sua forma mais pura. Por vezes o imaginário transforma-se em concreto e maravilhoso. Noutras, continua na ilusão subjectiva e verdadeira em si mesma.
Os amigos desconhecem ou não dão atenção aos detalhes que os tornam tão diferentes. Seja por falta de tempo, seja por experiência, esta, que automatiza os movimentos e percepções numa sequência lógica insignificante ausente de pensamentos e reflexões.
Enquanto que se conhecessem, para compartilhar experiências neste conglomerado de redes capazes de transportar a um e a todos –, tornam-se os melhores amigos, mesmo que os abraços aconteçam num cantinho dos ecrãs.

Julho 2003